Artigo de Opinião
Critical Opinion
“Uma máscara transparente” “A Transparent Mask”
in A SEGUNDA PELE – The Second Skin p.67-69
(…) Por momentos, as obras parecem aludir ao mistério existente por trás da máscara dos participantes das Festas dos Rapazes, mas, paralelamente, expulsam-nos para lá do espelho, enviando-nos para o nosso próprio rosto, obrigando-nos a colocar a máscara ou convidando a que a tiremos. (…)Ficamos, então, sem possibilidade de distinguir o rosto e a máscara, pois são exatamente o mesmo. (…)
(…) At times, her works seem to touch upon the mystery behind the mask of those who participate in the Festas dos Rapazes [the Boys’ Festival] or of the masked men, but at the same time they push us beyond the reflection in the mirror, drawing us to our own face, forcing us to put on the mask or inviting us to take it off. (…) We will, therefore, be unable to distinguish the face from the mask, for they are exactly the same.(…)
Domingos Loureiro
Professor Coordenador da Secção de Pintura da Faculdade Belas Artes,
Universidade do Porto
Coordinating Professor of the Painting Section of the Faculty of Fine Arts,
University of Porto
“Balbina Mendes e a exuberância simbólica da máscara” “Balbina Mendes and the symbolic exuberance of the mask”
in A SEGUNDA PELE – The Second Skin p.25-27
As possibilidades combinatórias entre o rosto e máscara, entre o rosto e o tempo, entre o indivíduo e a sociedade, entre o privado e o público, entre o divino e o demoníaco, entre a festa e a dádiva, entre o inverno e a fertilidade, entre o passado e o presente, seguramente não ficam esgotadas aqui. Proliferam sempre. Cada uma das experiências plásticas que Balbina Mendes nos oferece relembra-nos, talvez, que em cada rosto estão sempre muitas máscaras. E em cada máscara estão todos os segredos do rosto. O rosto é o abismo do humano, que estes quadros tão bem nos ajudam a manter sob o signo do mistério que há sempre em cada rosto. O mistério do rosto é sempre uma máscara sublime.
The combinatory possibilities between face and mask, between face and time, between the individual and society, between the private and the public, between the divine and the demonic, between the feast and the gift, between winter and fertility, between the past and the present, are surely not exhausted here. They proliferate continuously. Each of the experiences Balbina Mendes offers us reminds us, perhaps, that in every face there are always many masks. And in every mask lie all the secrets of the face. The face is the abyss of the human, that these pictures so well help us to keep under the sign of the mystery that there is always in each face. The mystery of the face is always a sublime mask.
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José Francisco Meirinhos
Professor Catedrático
Diretor do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Full Professor
Director of the Philosophy Department of the Faculty of Letters of the University of Porto
“Face à história” “In the face of history”
in A SEGUNDA PELE – The Second Skin p.19
Assim é o trabalho de Balbina Mendes, gerado na relação direta com uma terra, um lugar, o seu património. Tinta e plexiglass, rosto e máscara, pele e tatuagem constroem imagens de imagens. A sua pintura nasce de uma certa nostalgia patrimonial e renova-se em cada camada, em cada transporte de uma memória, um ritual, uma decoração.
Such is the work of Balbina Mendes, generated in a direct relationship with a land, a place, its heritage. Ink and plexiglass, face and mask, skin and tattoo build images of images. Her painting is born out of a certain heritage nostalgia and is renewed in each layer, in each transport of a memory, a ritual, a decoration.
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Laura Castro
Diretora Regional de Cultura do Norte
Regional Director of Culture of the North
“A singularidade da forma” “The uniqueness of form”
in Jornal AS ARTES ENTRE AS LETRAS – 26/7/2023
(…) Na sobreposição das camadas temporais e da diversidade de recursos artísticos, sobressai a investigação, a recolha textual e o labor criativo de uma artista que gosta de entrosar palavras e emoções, fazendo jus às palavras de David Mourão-Ferreira: Nós temos cinco sentidos: são dois pares e meio de asas. Vendo, ouvindo, sentindo, estudando, pensando e voando. O título, A segunda pele, interpela-nos: quantas camadas visíveis e invisíveis? Quem somos? Somos o que parecemos?
(…) In the overlapping of temporal layers and the diversity of artistic resources, research, textual collection and the creative work of an artist who likes to combine words and emotions stand out, doing justice to the words of David Mourão-Ferreira: We have five senses: they are two and a half pairs of wings. Seeing, hearing, feeling, studying, thinking and flying. The title, The Second Skin, challenges us: how many visible and invisible layers? Who are we? Are we what we seem? Who do we think we are and what do others think we are? (…)
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Edite Estrela
Vice-Presidente da Assembleia da República
Vice-president of the Republic Assembly
“Uma incessante procura” “A never-ending search“
in A SEGUNDA PELE – The Second Skin p.125-126
(…) Interessante, também, nesta série é o facto de, em algumas pinturas, o poder visual da cor das máscaras transmontanas ter sido ocupado pelo poder das palavras, dos poemas de Fernando Pessoa. Os quadros tornam-se mais densos – e se a obra se desdobra em vários planos, ela faz, depois, o caminho inverso, e funde-se sob o nosso olhar, embora saibamos que o que vemos é, apenas, uma das partes do que podemos ver. Tal como com o rosto e a máscara. Sempre a pôr, sempre a tirar.
(…) In this series, also interesting is the fact that the masks color has been filled with the power of words, by Fernando Pessoa’s poems. The paintings become more complex and even though the work can be divided in different plans, then it does the reverse. Although we know what we see is just one of the parts, we can see that is the case. Just like the face and the mask: always putting it on and taking it off.
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Djalme Neves
Jornalista
Journalist
“Eu e os outros que em mim moram” “I and the others that live in me”
in A SEGUNDA PELE – The Second Skin p.91-92
A arte é transfiguração, aspeto aqui bem visível nas composições que recriam as Graças de acordo com a temática das máscaras. As Graças ou Cárites cuja origem também não goza de unanimidade são as deusas da festa, da concórdia, do encanto, da prosperidade e da sorte.
Art is transfiguration, an aspect here clearly visible in the compositions that recreate the Graces according to the theme of masks. The Graces or Cárites, whose origin is also not unanimous, are the goddesses of feasting, concord, enchantment, prosperity and luck.
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Artur Manso
Professor, Universidade do Minho
Professor, Minho University
“O embuste do espelho ou as máscaras mutantes” “The mirror hoax or the mutant masks”
in A SEGUNDA PELE – The Second Skin p.241-242
Trazer Pessoa a terreiro era inevitável: o grande mágico do Eu, o múltiplo unitário… ou o uno diverso, teria de forçosamente se atravessar no caminho da nossa artista. E o casamento foi, está a ser… feliz. Neste seu desassossego, quedando-nos ainda e sempre nesse universo, pois “quem tem alma não tem calma”, a também desassossegada Balbina propõe-se desmascarar-nos pelo contraditório método da sobreposição de rostos. Acrescentando máscaras, das quais involuntária e continuamente nos socorremos, vai-nos retirando a opacidade que desejaríamos. Desvenda-nos pela multiplicidade e exacerbação dos semblantes, resultando numa exposição do nosso interior.
Bringing Pessoa on the scene was inevitable: the great magician of the Self, the unitary multiple… or the diverse one, would have to forcibly cross our artist’s path. And the marriage was, is being… happy. In this restlessness of hers, keeping us still and always in this universe, because “whoever has a soul is not calm”, the also restless Balbina proposes to unmask us through the contradictory method of superimposing faces. By adding masks, which we involuntarily and continually resort to, it gradually takes away the opacity we would like. It unveils us through the multiplicity and exacerbation of faces, resulting in an exposure of our inner self.
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Joaquim Pinto da Silva
Editor
Publisher
“Faces de um novo discurso, com Pessoa” “Faces of a new discourse, with Pessoa”
in A SEGUNDA PELE – The Second Skin p.147-149
(…) Os versos formam um caligrama facial, como se executava Apollinaire em 1918. Nessa morfologia harmónica de traços femininos, o negrito explicita a sintaxe do poema. Várias tradições, pois, do óleo sobre tela e da fotografia até à bibliografia fernandina e à poesia visual, se entrelaçam num rosto de olhar sempre vivo, que nos desafia. Tudo simples e questionador, em artista poliédrica.
The verses form a facial calligraphy, as apollinaire did in 1918. In that harmonic morphology of female traits, the syntax of the poem is explicitly explained in bold. Various traditions, as from oil on canvas and photography to the Fernandine bibliography and visual poetry, they intertwine in a face of an always lively look, which challenges us. All simple and questioning, in a polyhedral artist.
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Ernesto Rodrigues
Escritor, Professor Universitário
Writer, University Professor
“Alomorfias” “Allomorphisms”
in A SEGUNDA PELE – The Second Skin p.173-174
Partindo de um acentuado revivalismo temático, Balbina Mendes, apoia-se na teoria institucional da arte (George Dickie) e persegue um enquadramento conceptual que corrobora a pluralidade e autopercepção do objecto estético. Vestígios surrealistas, neo-expressionistas, hiper-realistas…, sem qualquer subserviência a estéticas mas implicitando-as, suportam o projecto de ancestralidade temático. Não há regras nem limites para a diversificação da arte, para os seus novos veículos, para os novos modos de expressão, para os novos contextos. Há sim um projecto alomórfico. Então, sem mais, “Depus a máscara, e tornei a pô-la” (Álvaro de Campos)
Setting out from a striking thematic revival, Balbina Mendes relies on the institutional theory of art (George Dickie) and pursues a conceptual framework that corroborates the plurality and self-perception of the aesthetic object. Surrealist, neo-expressionist, hyper realistic vestiges … without any subservience to aesthetics but making them implicit, they support the project of thematic ancestry. There are no rules nor limits for the diversification of art, for its new vehicles, for new modes of expression, for new contexts. There is an allomorphic project, though. Then, without further ado, “I took off the mask, and then put it on again” (Álvaro de Campos).
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Isabel Ponce de Leão
Professora na Universidade Fernando Pessoa
Professor at University Fernando Pessoa
“A SEGUNDA PELE” “The Second Skin”
in Jornal AS ARTES ENTRE AS LETRAS – 17/01/2024
Todos temos uma segunda pele, só vista por aqueles que têm a capacidade de ver para além do olhar. Se na linguagem científica a perceção das imagens e das cores é o resultado de inúmeras transições eletrónicas que ocorrem à escala atómica aquando da excitação dos materiais por um feixe de luz visível, na arte de Balbina Mendes a perceção das suas imagens obriga-nos a transpormo-nos a nós próprios, num olhar que cruza o passado, o presente e o futuro.
We all have a second skin, only seen by those who have the ability to see beyond the gaze. If in scientific language the perception of images and colours is the result of countless electronic transitions that occur on an atomic scale when materials are excited by a beam of visible light, in Balbina Mendes’ art the perception of her images forces us to transpose ourselves, in a look that crosses the past, the present and the future.
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Catarina Miguel
Engenheira Química e Cientista do Património do Laboratório HERCULES-Universidade de Évora e In2Past – Laboratório Associado para a Investigação e Inovação em Património, Artes, Sustentabilidade e Território
Chemical Engineer and Heritage Scientist at the HERCULES Laboratory-University of Évora and In2Past – Associated Laboratory for Research and Innovation in Heritage, Arts, Sustainability and Territory
“A SEGUNDA PELE” “The Second Skin”
in Jornal Nordeste – 27/6/2023
(…) Balbina Mendes parte das suas raízes, a língua e a cultura mirandesa, e eleva -se do local ao universal. Mesmo que esse universal seja uma mera abstração e o que exista são culturas diferentes e olhares diferentes em relação ao mesmo universo, que enfatizam determinadas características do ser humano e se desenvolvem e dão sentido aos diferentes contextos…
(…) Balbina Mendes starts from her roots, the Mirandese language and culture, and rises from the local to the universal. Even if this universal is a mere abstraction and different cultures and different perspectives in relation to the same universe are what exist, emphasizing certain characteristics of the human being and developing and giving meaning to different contexts…
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Berta Nunes
Deputada da Assembleia da República
Deputy of the Republic Assembly
“A SEGUNDA PELE” “The Second Skin”
Mas a verdade é que nem sempre se consegue fechar a porta a certos temas. Ela fica entreaberta e uma réstia de luz teima em impor a sua força. Assim aconteceu com o tema das máscaras. As suas múltiplas ligações antropológicas, sociológicas, culturais obrigaram, exigiram a Balbina Mendes um outro entendimento. A sua influência mágica, a poética que encerram e que continua viva, trouxeram à pintora não a serenidade do trabalho feito, mas a inquietação e o desassossego.
But the truth is that you can’t always close the door on certain topics. It stays ajar and a ray of light insists on imposing its strength. This happened with the theme of the masks. Their multiple anthropological, sociological and cultural connections forced and demanded a different understanding from Balbina Mendes. Their magical influence, the poetics that they contain and that remains alive, brought to the painter not the serenity of the work done but concern and unrest.
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Helena Gil
Ex Diretora Regional de Cultura do Norte
Former Regional Director of Culture in the North
“A pintura de Balbina Mendes – O lugar das mulheres nas artes” “The painting of Balbina Mendes – The place of women in the arts”
in A SEGUNDA PELE – The Second Skin p.207-209
Na sua mais recente exposição, intitulada “A Segunda Pele”, o engenho narrativo de Balbina não nos revela, antes adensa o segredo dos jogos entre as faces desocultadas e as suas máscaras, mas revela-a, definitivamente, como assombrosa retratista, do rosto, das suas metamorfoses, do tangível e do intangível. Confirma o seu incessante questionamento sobre o ser, as suas mutações e aparências. É, agora, na Literatura que busca inspiração, glosando, em enigmáticas efígies, motes Pessoanos. As respostas que encontra na tela são sempre fonte de sucessivas interrogações, de demandas inspiradas na heteronímia do Poeta, ou até, talvez, simplesmente na duplicidade do “eu” de cada um de nós. Como dizia Maria Anderson; “Qualquer pessoa ficciona a sua própria identidade. Não nos ficcionamos sempre da mesma maneira. Vamos mudando o guião”. Ou, secundando Maria Velho da Costa, nos poderemos interpelar: “Quem sou? Talvez seja quem vou sendo…”
In her most recent exhibition, entitled “The Second Skin”, Balbina’s narrative ingenuity does not reveal to us, rather does it thicken the secret of the games between the uncovered faces and their masks, but reveals her, definitively, as an astonishing portraitist, of the face, of its metamorphoses, of the tangible and the intangible. It confirms her incessant questioning about being, its mutations and appearances. It is now in Literature that she seeks inspiration, glossing, in enigmatic effigies, Pessoa’s mottos. The answers she finds on the canvas are always a source of successive interrogations, of demands inspired by the Poet’s heteronym, or even, perhaps, simply by the duplicity of the “I” of each one of us. As Maria Anderson used to say: “Anyone fictionalizes their own identity. We don’t always fictionalize ourselves in the same way. We keep changing the script”. Or, following Maria Velho da Costa, we can ask ourselves: “Who am I? Maybe I’m who I’m going to be…”
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Manuela Aguiar
Ex Secretária de Estado das Comunidades
Former Secretary of State for Communities